Irmandade São Benedito e Nossa Senhora do Rosário

www.palmares.gov.br www.mundonegro.com.br dwlywre@yahoo.com.br
Total de visitas: 10896
Especial

A Consciência negra num mundo multicolor
A reivindicação nasceu nas ruas, durante mais de 35 anos de luta do movimento negro brasileiro contemporâneo. Considerado criminoso em seu tempo, o líder palmarino Zumbi conquista status de herói nacional, quase 300 anos após sua execução. Mas será que a data de 20 de novembro serve para reflexão apenas aos afro-descendentes?

por OSWALDO FAUSTINO | imagem REPRODUÇÃO


Cabeça de negro 1929 - Xilogravura Lasar Segall
"TODO BRASILEIRO TRAZ NA ALMA E NO CORPO A SOMBRA DO INDÍGENA OU DO NEGRO"
(Gilberto Freyre, historiador)


Não estranhe se questionarem o heroísmo de Zumbi, se lhe disserem que estudiosos comprovaram que ele manteve escravos, que mandou envenenar o tio, Ganga Zumba, seu antecessor na liderança do Quilombo de Palmares - localizado na Serra da Barriga, no atual estado de Alagoas, à época Capitania de Pernambuco -, entre outros supostos desmandos. Zumbi é cercado de histórias e lendas. Podem, sim, existem documentos que revelam esses fatos. Não estamos, porém, reivindicando a sua canonização, mas exaltando a resistência ao poder constituído escravagista do período em que viveu, aos que tentaram destruir seu quilombo e sua capacidade de organização, que fez de Palmares o primeiro estado republicano brasileiro.
É preciso que se entenda que ele é apresentado como um contraponto ao chamado "negro Pai João", símbolo dos negros e negras dóceis e conformados com a situação de escravidão. Além de combater a idéia de docilidade e conformismo, como a do mito da "mãe preta", subserviente e feliz em amamentar os filhos de seus senhores, a militância negra dos 60 e 70 sentia a necessidade de destruir todos os demais conceitos brancos do que seria "ser negro": sem capacidade intelectual, indolente, dado ao alcoolismo, hábil apenas no samba e no futebol, mulheres feias, mas voluptuosas, fáceis e ávidas em serem seduzidas e usadas como objeto sexual, entre outros.
Era também necessário combater a idéia de que no Brasil existia uma "democracia racial". Esse conceito significava uma coexistência pacífica e harmoniosa entre raças - especialmente entre negros e brancos -, com supostas oportunidades iguais para todos. Não conseguir uma ascensão era apontado como prova de inferioridade. Por outro lado, sabia-se que essa "paz" só era mantida enquanto o negro permanecesse num estrato social subalterno. Caso quisesse disputar espaço em patamares superiores, imediatamente era impedido, com argumentos absurdos. O menos nefasto era o da falta de "boa aparência".
Apesar do termo "democracia racial" não ser uma invenção do sociólogo Gilberto Freyre, nem ser mencionado em sua obra-prima Casa-Grande & Senzala, de 1933, a leitura dessa obra, principalmente após a década de 50, levou nossos intelectuais e jovens militantes a encontrarem ali as raízes desse pensamento. Por isso virou moda rejeitar a obra e o seu autor para aqueles que se empenhavam em construir o mito do negro inconformado e combativo, como já se fazia com relação à Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.
Vale lembrar que o Brasil foi um dos últimos países no mundo a abolir a escravidão e que a essa lei foi assinada quando o regime escravocrata já estava falido. Desde o início do século 19, a Revolução Industrial, na Inglaterra, pressionava o país a pôr fim ao tráfico de escravos, que só foi extinto pela Lei Eusébio de Queirós, 1850. No mesmo ano, o fim da Guerra do Paraguai também contribuiu para essa falência com o retorno de ex-escravos ao quais se prometeu a liberdade em troca do engajamento militar no combate ao país vizinho.
Além disso, já era significativo o número de negros e negras livres, quer por terem fugido de fazendas e minas para viver em quilombos, quer pela compra da própria carta de alforria, ou por terem nascido após a Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871), ou ainda por serem beneficiados pela Lei Saraiva-Cotegipe, também conhecida como Lei dos Sexagenários (1885), que dava liberdade para os que tivessem mais de 60 anos.
Enfim, a assinatura da princesa foi apenas uma última cartada diante do movimento republicano que se agigantava. Pouco mais de um ano depois, em 15 de novembro de 1889, a monarquia era deposta. Para muitos negros da época, gratos a Isabel, a República foi responsável pela não inserção de seu povo na sociedade brasileira. Por isso se mantiveram monarquistas.
Fonte:Revista Raça Brasil
Criar uma Loja online Grátis  -  Criar um Site Grátis Fantástico  -  Criar uma Loja Virtual Grátis  -  Criar um Site Grátis Profissional